Refiro, por último, os aspectos mais negativos do anteprojecto, aqueles que provocariam, a meu ver, um enorme retrocesso nas artes cinematográficas portuguesas. Desde logo, a indistinção entre cinema e audiovisual (no sentido de obras cujo primeiro mercado de difusão é a televisão). É especialmente grave o facto de o financiamento plurianual (o Fundo/FICA, nota da A.P.R.) não prever modalidade e recursos próprios para apoio à produção de cinema. O risco de os fundos disponíveis serem "engolidos" pelos produtores de televisão é evidente. E o peso da lógica "industrial" na arquitectura do anteprojecto, a inexistência de uma referência explícita à obrigação de a concessionária do serviço público de televisão participar na produção de cinema português e as declarações repetidas do ministro Morais Sarmento só contribuem apara agravar tal risco. Confundir cinema e audiovisual significará deitar fora o principal valor e a principal vantagem comparativa da nossa arte de cinema. Os realizadores que já se manifestaram têm, neste ponto, inteira razão.
Augusto Santos Silva
Público - 5/4/2003
Público - 5/4/2003
Nota: Apoios FICA 2008:
A Vida Privada de Salazar : Mini-série estreia-se domingo e o filme a partir de Abril
Amália: Em 2009, o filme será exibido numa mini-série na RTP de dois episódios de 90 minutos
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